Palmeira

Palmeira dá os primeiros passos para organizar a criação de porco Moura

Grupo trabalha no planejamento de ações para tornar a atividade rentável e a criação rastreável

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Com o objetivo de organizar a cadeia produtiva do porco Moura em Palmeira, na região dos Campos Gerais, um comitê formado por representantes do Poder Público, empresários, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Associação Paranaense de Criadores de Porco Moura e Sebrae/PR, tem se reunido para planejar ações que tornem a atividade rentável, fomentem a economia local e agreguem fonte de renda para os pequenos produtores.

Conforme a consultora do Sebrae/PR, Mariana Santana Scheibel, uma das primeiras ações é levantar quem e quantos são os produtores e aproximar instituições interessadas em participar do projeto.

“A ideia é estruturar o setor, ganhar mercado, certificar a carne e entender o papel de cada um na cadeia produtiva. É um trabalho que depende de planejamento e que necessita do envolvimento efetivo dos interessados”, frisa a consultora.

A chef de cozinha e empresária Rosane Radecki conta que o primeiro contato com a carne do suíno aconteceu há aproximadamente oito anos. Segundo ela, a forma com que o animal é tratado resulta em uma carne diferenciada, tanto no aroma quanto na textura e na coloração.

“A criação do porco Moura é sustentável, com o animal ao ar livre, solto em pasto aberto, e com alimentação específica e natural com frutos e vegetação nativa, o que resulta em um aroma diferente do porco criado confinado e com ração. Além disso, existe todo um cuidado no abate, resultando em uma carne de extrema qualidade”, conta.

Foi diante das dificuldades encontradas no passado, como inexistência de indústrias que fizessem cortes do animal, que tem porte maior, que a empresária não inseriu no cardápio do restaurante que tem às margens de uma rodovia, em Palmeira. A expectativa, no entanto, é que a partir de 2024 isso venha a acontecer.

“Estamos negociando com indústrias o abate e o corte do animal. Desta forma, é possível aproveitar melhor o produto e inserir no nosso cardápio no próximo ano”, comenta.

Foi a paixão pela carne do porco Moura que despertou o desejo de também ser uma criadora. A empresária diz que um dos projetos é ter uma chácara modelo de criação e que seja também um local de visitação.

“Acho importante ter no meu restaurante um produto que eu mesmo crio. Isso abre novas possibilidades, pois o meu cliente pode ter uma experiência gastronômica diferenciada, visitando a propriedade após consumir o produto”, revela.

Atualmente, a criação da raça pela empresária acontece em parceria com um produtor de orgânicos de Palmeira. Para ela, com a organização da cadeia produtiva e o planejamento de ações será possível tornar o município um polo de produção e referência no mercado.

“É importante que se tenha a rastreabilidade da produção. Quando se desenvolve a cadeia é possível gerar mais renda, movimentar o turismo rural, ser referência no setor e explorar melhor as propriedades rurais”, avalia.

Grupo é formado por representantes do Poder Público, empresários, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Associação Paranaense de Criadores de Porco Moura e Sebrae/PR. Foto: Divulgação

Proprietário da empresa na aérea de consultoria agropecuária, o zootecnista Charles Novinski, é um dos envolvidos no trabalho de organização da cadeia produtiva do porco Moura, em Palmeira. Segundo ele, é importante, nesse primeiro momento, focar no caminho reverso, ou seja, levar a informação até o consumidor para que ele conheça o produto e o mercado seja estimulado.

“É essencial que o consumidor busque o produto, conheça a história da raça, o alto grau de bem-estar com que o animal é criado e tenha garantia de origem do produto. Esse mercado já existe, mas precisa ser desenvolvido. Muitos consumidores querem saber a origem do que estão consumindo, quem é o criador, como os animais foram criados. Após isso, é importante buscarmos indústrias para fazer os cortes e os produtos e, por fim, trabalharmos com os criadores”, comenta.

Segundo ele, não existem dados oficiais sobre a criação no Estado, mas sondagens com criadores que mantêm a raça pura e que compraram animais de origem genética conhecida. São 32 vinculados à Associação Paranaense de Criadores de Porco Moura, com rebanho de 500 animais. No entanto, há criadores que não estão associados, com uma média de 400 animais.

Conforme a diretora de Agricultura e Pecuária da Prefeitura de Palmeira, Thais de Almeida Santos, existe uma preocupação da gestão municipal em padronizar a criação do porco Moura na cidade.

Para isso, a Prefeitura está desenvolvendo, em parceria com o Sebrae/PR, o projeto “Porco Moura Palmeira”, que visa incentivar a criação, com a oferta de assistência técnica. Além disso, a carne é indicada para charcutaria, isto é, em embutidos como linguiças, salames e presuntos.

“Queremos padronizar e incentivar a criação, saber quem são os produtores, oferecer assistência técnica e subsídios para que possam ter uma renda extra com a carne”, diz a diretora.

A zootecnista e professora da UEPG, doutora Maria Marta Loddi, é uma das integrantes do Comitê e acredita que a estruturação da cadeia produtiva é importante, principalmente com relação à parte técnica de apoio aos criadores.

“É fundamental buscarmos certificação da carne, ter cuidados com a legalização do abate, verificar o direcionamento genético e direcionar para quem será comercializado o produto”, pontua.

Regiões produtoras
Existem criações da raça no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. A espécie foi introduzida na região sul do Brasil ainda no período colonial, pelos europeus, especialmente pelos portugueses e espanhóis, e hoje é reconhecida como uma raça existente só no Brasil. Como o Porco Moura tem maior resistência a doenças e a condições climáticas adversas, a sua criação é mais fácil em regiões de clima frio.

*Sebrae/Paraná