Paraná
Quedas e oscilações de energia causam prejuízo milionário no campo
Com base no relato de mais de 50 sindicatos rurais, Sistema FAEP/SENAR-PR pede providências imediatas à Copel, ao governo do Paraná e à Alep
Mais do que transtornos em seu dia a dia, produtores rurais de todas as regiões do Paraná têm amargado prejuízos significativos em razão de quedas recorrentes no fornecimento de energia elétrica ou de oscilações na tensão da rede. Nos últimos meses, o Sistema FAEP/SENAR-PR recebeu 18 ofícios de sindicatos rurais e núcleos de sindicatos, que, juntos, correspondem a 54 unidades sindicais.
Os documentos detalham os problemas enfrentados por agricultores e pecuaristas e que impactam diretamente na produção agropecuária. Os apagões têm se imposto como um obstáculo a quem produz, mas com impactos que se refletem na economia do Estado.
O Sistema FAEP/SENAR-PR compilou os apontamentos enviados pelos sindicatos rurais, resumindo os problemas no fornecimento de energia e traçando um cenário da situação vivida pelos produtores. Enviado em 5 de fevereiro à Copel, ao governo do Paraná e a todos os deputados estaduais, o ofício pede providências imediatas e assinala: “O tema é urgente e, sem resolução, o desenvolvimento do Paraná poderá ser comprometido”.
“A energia elétrica é um dos insumos mais importantes da produção agropecuária. Os problemas no fornecimento afetam diretamente a nossa força produtiva e, em consequência disso, prejudicam a economia do Paraná. O sentimento manifestado pelos produtores rurais é de completo abandono. Por isso, pedimos medidas urgentes, para que os prejuízos não sejam ainda maiores”, afirma Ágide Meneguette. presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR
Problemas e prejuízos
Um dos reflexos da deterioração da rede elétrica no campo é a oscilação recorrente de carga, que tem provocado a queima de sistemas elétricos de equipamentos, como motores, bombas de irrigação, climatizadores e painéis de controle, entre outros. Em alguns casos, o prejuízo vai além.
Outro problema sentido reiteradamente pelos produtores rurais são as quedas de energia. No último quadrimestre de 2023, houve mais de 38 mil interrupções de distribuição de energia registradas no Paraná, aumento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em alguns casos, os episódios são sequenciais.
Em Guamiranga, por exemplo, houve dez quedas em apenas uma hora, o que fez com que diversos equipamentos queimassem – conforme ofício enviado ao Sistema FAEP/SENAR-PR pela prefeitura e assinado por 13 associações de produtores, que representam mais de 1,8 mil famílias.
O período médio de duração das interrupções também aumentou. O tempo de atendimento subiu de 248 minutos (mais de quatro horas) para 355 minutos (quase seis horas), de acordo com a Aneel. Há casos, entretanto, em que a interrupção no fornecimento se estende por dias.
Conta do produtor subiu 76% em cinco anos
Nos últimos cinco anos, os produtores rurais do Paraná viram sua conta de luz disparar. O custo da energia elétrica no campo subiu 76,4% no período, enquanto a tarifa residencial teve reajuste de 45,1% – em ambos os casos, as altas foram superiores à da inflação, medida pelo IPCA. Com o fim de subsídios, a tarifa rural se equiparou à urbana. No campo, entretanto, os serviços têm gargalos estruturais. Em 2021, por exemplo, o produtor paranaense ficou, em média, 30 horas sem energia, enquanto esse período médio foi de sete horas na cidade.
“A energia compõe o principal custo da avicultura e da suinocultura, o segundo da piscicultura e o terceiro na produção leiteira. É um insumo que tem impacto direto na produtividade, no bem-estar animal e na relação dos produtores com as agroindústrias. Apesar de a tarifa no campo ter se igualado à da cidade, os investimentos no meio rural têm se mostrado inócuos, o que tem se expressado nos episódios reiterados de problema no fornecimento que recebemos, de produtores de todo o Estado”, relata Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR e conselheiro pela classe rural do Conselho de Consumidores da Copel.
Privatização
Em 2023, o governo do Paraná arrecadou R$3,1 bilhões com a venda de ações da Copel na Bolsa de Valores, em São Paulo. Destes, R$2,6 bilhões tinham sido obtidos em agosto do ano passado, com uma operação inicial. Em setembro, um lote suplementar de ações rendeu R$464 milhões aos cofres paranaenses. Também no ano passado, o Conselho de Administração da Copel aprovou a distribuição de R$958 milhões de dividendos a acionistas.
Segundo os produtores rurais, os episódios de quedas e oscilações aumentaram após a privatização. Quem está no campo não tem visto manutenção nas redes e aponta que o comprometimento das equipes terceirizadas não é o mesmo dos funcionários de carreira. Quem sofre são os usuários dos serviços.
“Nós estamos pagando o mesmo que a energia urbana, mas o atendimento na área rural é mil vezes pior. Parece que teve uma mudança desde a privatização. Pelo que a gente está sentindo, está tudo muito pior. Precisamos que haja um comprometimento com uma solução”, reclama Rodolpho Botelho, presidente do Sindicato Rural de Guarapuava.
Produtores relatam dificuldades de comunicação e falhas de manutenção
Além de sofrer com os problemas de abastecimento elétrico, os produtores rurais também enfrentam dissabores ao tentar acionar a Copel para pedir a manutenção da rede ou o restabelecimento do fornecimento de energia. Conforme os sindicatos relataram ao Sistema FAEP/SENAR-PR, os canais de atendimento por telefone estão excessivamente “robotizados” – ou seja, os usuários são atendidos por uma gravação, que dá encaminhamento às demandas a partir de códigos numéricos a serem digitados. Além disso, os agricultores e pecuaristas reclamam da demora no contato com o suporte da empresa.
No caso de Guarapuava, segundo o presidente do sindicato rural, Rodolpho Botelho, o atendimento presencial da Copel aos usuários do município ocorre apenas no período da manhã. Nos canais virtuais, o atendimento tem sido “inviável e ineficaz”, na avaliação do líder rural.
“Todo mundo está relatando que é complicadíssimo falar com eles. Aparentemente, reduziram os investimentos e as equipes de manutenção passaram a ser terceirizadas. E quando se tem problemas, esbarramos nessa dificuldade de obter atendimento. Tivemos casos de produtores que ficaram quatro dias sem energia, esperando para ser atendido”, comentou Rodolpho Botelho, presidente do Sindicato Rural de Guarapuava.
O que diz a Copel
A Copel informou que encaminhou respostas individualizadas a cada um dos sindicatos rurais e à FAEP. A empresa disse que “fez um levantamento das redes que fornecem energia aos clientes rurais dos municípios em questão e que está intensificando a execução de inspeções e manutenções onde necessário, visando a melhoria na continuidade do abastecimento”.
Além disso, a companhia enfatizou que em 2023 o Paraná enfrentou 24 temporais de grandes proporções que provocaram danos graves à rede elétrica. Além de causar maior número de interrupções no fornecimento de energia, esses eventos interferem no cronograma de manutenção preventiva.
“Trata-se do maior número de temporais registrados no Estado em um ano. A ação das intempéries provocou a quebra de 5.637 postes da rede da Copel no ano passado. A instalação dos novos postes no lugar dos avariados equivale à quantidade de estruturas necessárias para construir uma rede nova de cerca de 320 quilômetros de extensão”, consta de nota emitida pela Copel.
A companhia também afirma que destinou, em 2023, R$ 1,878 bilhão a obras de ampliação e reforço na distribuição de energia do Paraná. O montante foi aplicado em grandes programas de modernização, como o Paraná Trifásico, além da construção de novas linhas, redes, subestações e sistemas de reconfiguração automática. Para 2024, estão previstos investimentos de mais de R$ 2,1 bilhões em obras de melhoria do sistema elétrico.
*Sistema FAEP/SENAR-PR com edição