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Abelhas produzem mel e aumentam a produção de grãos no Noroeste

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No sítio Roda d’Água, localizado na região Noroeste do Paraná, o cultivo de grãos convive harmoniosamente com a apicultura. Cerca de 80 colmeias são mantidas nas áreas de preservação da propriedade, no município de Floresta, e fazem parte de uma antiga tradição da família Jung. O que para muitos produtores é impossível, manter as abelhas e cultivar soja ou milho, se transformou num diferencial. Hoje as abelhas se transformaram em aliadas dos produtores. Além de produzirem mel, elas são responsáveis por um aumento considerável da produção de grãos. A prática mostra, e a pesquisa comprova que o manejo adequado das lavouras traz benefícios tanto ambientais quanto econômicos para o produtor.

Até os anos 70 o sítio Roda d’Àgua, pertencente a João Jung, era ocupado com o plantio de café e os filhos, Antônio e João Filho, mantinham algumas colmeias na propriedade. Depois da grande geada negra que comprometeu o cafezal, os proprietários deram início ao plantio de soja e decidiram manter as abelhas. Para alimentar as colmeias eles contavam com dois alqueires de mata nativa preservada e 59 alqueires dedicados às lavouras. O manejo era feito de forma intuitiva, evitando aplicar agrotóxico quando as abelhas estavam procurando pólen no campo ou retirando as colmeias de áreas expostas a produtos químicos. Na década de 90 um extensionista da Emater, hoje IDR-Paraná, deu algumas orientações para que os produtores melhorassem o manejo das abelhas.

Mais mel, mais soja

Na ordem natural de sucessão familiar, a propriedade passou a ser administrada pelos filhos do seo João que levaram adiante o trabalho com as abelhas. Em seguida, seria a vez da terceira geração. Lígia e Paulo, filhos do seo Antônio, passaram a administrar a propriedade com o pai, já que o tio falecera. Neste tempo o consórcio abelhas-grãos foi aprimorado. Lígia Jung, formada em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá, lembra que a prática mostrava que havia algo acontecendo nas áreas próximas das colmeias. “Começamos a perceber que colhíamos bastante mel na época da florada da soja. Notamos que na beirada dos apiários a produção de soja era maior. A gente sentia que a colheitadeira ficava mais pesada”, relata Lígia.

Segundo ela, a partir dessa observação eles perceberam que havia uma relação muito boa entre as abelhas e a soja. “Decidimos cuidar dessa parte técnica, porque estava um ajudando o outro. A gente estava colhendo mais soja e mais mel”, acrescenta a produtora. Não demorou para que Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja, que desenvolvia um estudo sobre esse consórcio, viesse à propriedade para confirmar os dados a partir dos resultados obtidos pela observação dos produtores.

De acordo com Eduardo Mazzuchelli, coordenador regional de Lavouras do IDR-Paraná, de Maringá, já se sabia que a abelha aumentava a produtividade da soja, mas até pouco tempo atrás não havia uma avaliação oficial do impacto das colmeias nas lavouras. “As pesquisas da Embrapa mostraram que, apesar de a soja ser uma planta com flores auto fecundantes (quando as flores recebem seu próprio pólen ou o pólen de outras flores da mesma planta) as abelhas aumentam a produtividade. As vagens que normalmente produzem três grãos de soja, com as abelhas passam a ter 4 ou 5 grãos, com isso há um incremento médio na produtividade em torno de 13%”, afirmou.

Na propriedade da família Jung são mantidas colmeias com abelhas europa e espécies nativas, sem ferrão. Atualmente as colmeias produzem 2.000 quilos de mel que representam 20% da renda da propriedade. As abelhas garantem o pagamento das despesas da casa da família quando a soja não tem bom preço. Os produtores já têm uma marca, Mel Floresta, com registro no SIM (Sistema de Inspeção Municipal) e entregam mel para a clientela da região. O mel é tipificado como silvestre, já que as abelhas coletam pólen das flores da soja e de outras plantas nativas no restante do ano.

Manter colmeias em uma área com soja nem sempre é fácil. Em 2009 os proprietários perderam 50% das colmeias, em virtude da deriva de agrotóxicos de outras propriedades. Lígia afirmou que ela só insistiu com as colmeias porque já tinha uma marca regional de mel e não dava para perder esse patrimônio. “São anos brigando por isso, trabalhando com a apicultura. Falando que as abelhas não prejudicam a soja, só vêm agregar. Hoje a pesquisa já fala que essa parceria dá certo”, ressaltou Lígia.

Toda a família Jung está envolvida nesse trabalho. Seo Antônio e os filhos, Lígia e Paulo, cuidam da lavoura. A matriarca, dona Albertina Ambiel Jung é responsável pela agroindústria que processa o mel e pelo manejo das colmeias, juntamente com o seo Antônio e Lígia.

*IDR-Paraná

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