Azeite de oliva mais caro! Seca no campo encarece o “ouro verde” nos supermercados
Confira o artigo do jornalista especializado em agronegócio, Carlos Guimarães Filho
Se tem um condimento que cai bem com qualquer alimento, prato, quitute, aperitivo ou refeição é o azeite de oliva. O óleo, claro, quando de boa qualidade, ajuda a enriquecer o sabor e ressalta o aroma. Se assim como eu, você é fã de azeite, utiliza em praticamente todas as refeições, prepare o bolso. O produto deve ficar (ainda) mais caro nas prateleiras dos supermercados nos próximos meses. Isso por conta de um fenômeno climático que está ocorrendo milhares de quilômetros distantes do Brasil.
A Espanha é o maior produtor mundial de azeite, responsável por quase metade da produção global. A questão envolve a pior seca nas últimas décadas em algumas partes da Península Ibérica, exatamente onde estão as planícies de oliveiras. Só para esclarecer, caso o leitor desconheça, o azeite é produzido a partir do óleo obtido diretamente da azeitona.
Com a seca, os frutos das oliveiras, este ano, estão “atrofiados” nas árvores, o que vai resultar na queda de rendimento e, consequentemente, de um terço da produção espanhola, deixando a situação do azeite local devastada. E não há previsão de chuvas nos próximos meses para, ao menos, melhorar a situação. Assim, como bem sabe o cidadão urbano, entra em vigor a famosa lei da oferta e procura. Com menos produto espanhol no mercado mundial, mais raro e caro ele se torna.
No Brasil, o produto será inflacionado, pois não há para onde correr (ou recorrer). O país importou, em 2021, mais de 100 milhões de litros do produto, 99% do azeite consumido pelo mercado interno. Isso coloca o país na segunda posição do ranking mundial de importação de azeite, segundo a International Olive Council (OIC).
Por outro lado, sempre precisamos olhar o copo meio cheio. Esse problema na Espanha, que vai acarretar no aumento de preço do azeite por aqui, pode ajudar a impulsionar as iniciativas brasileiras de produção de azeite de oliva. Hoje, o Brasil conta com, aproximadamente, 120 marcas de azeites registradas. De forma tímida, o número vem crescendo ano a ano.
O maior polo nacional é o Rio Grande do Sul, onde se concentram grandes propriedades na região das planícies com temperaturas frias. Isso porque as árvores precisam de sol, terreno inclinado e pedregoso, além de 200 horas de temperatura abaixo de 10° graus por ano. O estado gaúcho é responsável por 70% da produção nacional. Há produção também na Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, onde os olivais e a produção são menores. Ainda, iniciativas, digamos, alternativas, ocorrem inclusive aqui no Paraná. Alguns produtores têm apostado na produção de óleo e azeite de abacate. Já experimentei, mas ainda fico com o original, a base de azeitona.
Considerando o mercado nacional, há espaço (e consumidor) para a produção brasileira de azeite se expandir. Por aqui, o consumo por pessoa é bastante baixo, inferior a 0,5 litro por ano. Como comparação, na Grécia, cada pessoa consume 22 litros por ano, e na Itália, 12 litros.
Diante deste cenário, resta aos apreciadores de um bom azeite algumas alternativas: ou torcer para São Pedro colaborar com chuvas na Espanha, torcer para a expansão da indústria brasileira de azeite ou preparar o bolso para preços elevados do produto. Independente da alternativa, não dá para fazer uma refeição sem azeite, pelo menos no meu caso.
Jornalista especializado em agronegócio, há mais 10 anos focado em produção de conteúdo sobre o tema.
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